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Mário Monteiro

O Zé e a feijoada

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O Zé adorava feijoada. Porém, sempre que comia, o feijão causava-lhe umareacção fortemente embaraçosa. Algo muito forte. Um dia apaixonou-se.Quando chegou a altura de pedir a mulher em casamento, pensou: - Ela é de boas famílias, cheia de etiqueta, não vai aguentar estar casadacomigo se eu continuar a comer feijão. Decidiu fazer um sacrifício supremo edeixou-se de feijoadas.Pouco depois estavam casados. Passados alguns meses, ao voltar do trabalho o carro avariou. Como estava longe, ligou para a mulher e avisou que ia chegartarde pois tinha que regressar a pé. No caminho, passou por um pequenorestaurante e foi atingido pelo irresistível aroma de feijoada acabadinha de fazer. Como faltavam vários quilómetros para chegar, achou que acaminhada o iria livrar dos efeitos nefastos do feijão.Então entrou, pediu, e ao sair tinha três doses de feijoada no estômago. O feijão fermentou e durante todo o caminho, foi-sepeidando sem parar. Foi para casa a jacto. Peidava-se tanto que tinha que travarnas descidas e nas subidas quase não fazia esforço para andar. Quando se cruzava com pessoas continha-se ou aproveitava a oportuna passagem dumruidoso camião para soltar gás. Quando chegou a casa, já se sentia maisseguro. A mulher parecia contente quando lhe abriu a porta e exclamou: "Querido, tenho uma surpresa para o jantar!". Tirou-lhe ocasaco, pôs-lhe uma venda nos olhos, levou-o até à cadeira na cabeceira damesa, sentou-o e pediu-lhe que não espreitasse. Nesse momento, já sentia mais uma ventosidade anal à porta!No momento em que a mulher ia retirar a venda, o telefone tocou. Elaobrigou-o a prometer que não espreitava e foi atender o telefone. Enquanto ela estava longe, ele aproveitou e levantou uma perna e -ppuueett - soltou um! Eraum peido comum. Para além de sonoro, também fedeu como um ovo podre!Aliviado, inspirou profundamente, parou um pouco, sentiu o fedor através da venda, e, a plenos pulmões, soprou várias vezes a toda a volta paradispersar o gás. Quando começou a sentir-se melhor, começou outro afermentar! Este parecia potente. Levantou a perna, tentou em vão sincronizar uma sonora tossidela para encobrir, e pprrraaaaaaaa! Sai um rasgador tossido. Parecia aignição de um motor de camião e com um cheiro mil vezes pior que oanterior! Para não sufocar com o cheiro a enxofre, abanou o ar sacudindo os braços e soprando em volta ao mesmo tempo, esperando que ocheiro se dissipasse. Quando a atmosfera estava a voltar ao normal, eis que vemlá outro. Levantou a outra perna e deixou sair o torpedo! Este foi o campeão: as janelas tremeram, os pratos saltaram na mesa, a cadeira saltou e num minuto as flores da sala estavamtodas murchas. Quase lhe saltavam os sapatos dos pés. Enquanto ouvia a conversa da mulher ao telefone no corredor, sempre fiel à sua promessa de não espreitar, continuou assim por mais unsminutos, a peidar-se e a tossir, levantando ora uma perna ora a outra, asoprar à volta, a sacudir as mãos e a abanar o guardanapo. Uma sequência interminável de bufas, torpedos, rasgadores e peidos comuns, nas versõessecas e com molho. De onde a onde acendia o isqueiro e desenhava com a chama círculos no ar para tentar incinerar o nefasto metano que teimava em acumular-se na atmosfera. Ouviu a mulher a despedir-see sempre com a venda posta, levantou-se apressadamente, e com uma mão deuumas palmadas na almofada da cadeira para soltar o gás acumulado, enquanto abanava a outra mão para espalhar. Quando sacudia e batiapalmadinhas nas calcas largas para se libertar dos últimos resíduos, ouviu o plim do telefone a desligar,indicando o fim da solidão e liberdade de expressão. Alarmado, sentou-se rapidamente, e num frenesim abanou apressadamente mais algumas vezes oguardanapo, dobrou-o, pousou-o na mesa, compôs-se, alinhou o cabelo,respirou profundamente, pousou as mãos ao lado do prato e assumiu um ar sorridente. Era a imagem da inocência quando a mulher entrou na sala. Desculpando-se pela demora, ela perguntou- lhe se tinhaolhado para a mesa. Depois de ele jurar que não, ela retira-lhe a venda, e, Surpresaaaa! Estavam 12 pessoas perplexas e lívidas sentadas à mesa: Os pais, os sogros, o patrão e os colegas de tantos anos de trabalho. Era a "festa surpresa de aniversário do Zé!"

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depois o cara ainda fala de mim, que desenterro as coisas.

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