Perguntinha

[Eliel 0]

Alguem saberia me explicar o que significa técnicamente "Tropicalizar" um sistema? Seria porventura, trazer o sistemas de uma região estrangeira para outra região?? Ou Seria sinônimo de internacionalizar?

[Decinho Game 0]

Produtos Tropicalizados e o Estranho Caso do Acerto das Horas

Quando eu era adolescente, "tropicalizado" era um termo que aparecia com frequência em peças publicitárias, principalmente de equipamentos eletrônicos, para indicar que o produto tinha sido desenvolvido ou havia sido adaptado para as condições do Brasil. Sendo o termo "tropical" associado à Geografia, a primeira coisa que vinha à mente era que o equipamento havia sido adaptado para funcionar nas quentes condições dos trópicos, em oposição às regiões de clima temperado de onde vinha (e ainda vem) a grande maioria das inovações tecnológicas.

Uma das lembranças da época é um "rádio philips tropicalizado" que havia na minha casa.


A rigor, "tropicalizado" significa "adaptado aos trópicos". Tomada ao pé da letra, a expressão significa que um produto assim adaptado deveria funcionar em locais situados entre o Trópico de Capricórnio e o Trópico de Câncer, linhas imaginárias que circulam o globo terrestre, paralelas ao Equador (este também uma linha imaginária que divide o globo em duas partes iguais).



Sendo assim, um rádio tropicalizado funcionaria corretamente em Cuba, Cidade do México (mas não em todo o México), em toda a Venezuela, no Yemen, em mais da metade da Índia, em quase metade de Taiwan ("China Nacionalista" para os mais antigos), Filipinas, Nova Guiné, e em parte da Austrália (mas não em Sydney), só para citar alguns pontos.



No entanto, como o Trópico de Capricónio passa sobre a cidade de São Paulo, o equipamento só funcionaria na sua metade mais ao Norte, não funcionando daí "para baixo", incluindo o Paracá, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul.



Mas "tropicalizado" perdeu seu sentido restrito a muito tempo, abrangendo:



· adaptação do motor dos veículos para uso da gasolina utilizada no mercado brasileiro, que tem cerca de 25% de álcool em sua composição

· adaptação da suspensão dos veículos para as condições das ruas e estradas brasileiras, sobre as quais nem vou perder meu tempo falando aqui

· adaptar o projeto de televisores, videocassetes e tocadores de DVD para o padrão PAL-M



Com o tempo, e o advento dos produtos digitais, "tropicalizar" passou a significa "adaptar o produto às condições de uso no Brasil", apesar dele ter um pedaço "fora dos trópicos". Isso inclui traduzir textos e mensagens para o português, além de outros detalhes na interação do usuário com o equipamento.



E é aqui que começo a contar um estranho caso que vinha ocorrendo em minha casa há cerca de dois anos e só ontem à noite foi devidamente esclarecido.



Há cerca de dois anos começou a ser usado em minha casa um forno de micro-ondas (da marca Panasonic) no qual não nos era possível acertar a hora do relógio. Aliás, ninguém consegui acertar a hora, exceto Janaína, a moça que trabalha aqui, ajudando nos afazeres domésticos. Sempre nos causou espanto que ninguém conseguia acertar o relógio, apesar de serguir as instruções dela, que nunca leu o manual do produto. Aliás, ainda não sabemos quem a ensinou isso.



Como o produto foi projetado para uma condição na qual faltar energia deve ser algo impensável, sempre que isso acontece (o que não é raro aqui em Recife) o relógio precisa ser ser acertado. Aliás, esse é um dos ítens que faltou "tropicalizar" nesse produto. Bastaria colocar uma bateria para "segurar" hora mesmo quando a energia da concessionária faltasse.



E Janaína sempre consegue, e mais ninguém. Nem adianta seguir as intruções dela: pressionar a tecla "Relógio", entrar com a hora e pressionar "Relógio" novamente. Com ela sempre funcionou e conosco (os outros moradores da casa) nunca funcionou.



Ontem, que, como já disse, não é raro acontecer por aqui, a energia faltou por um minuto, colocando o relógio do forno de micro-ondas naquela condição ridícula de ficar piscando "00:00". Normalmente não seria tentado acertar o relógio, pois a experiência anterior dizia que isso era infrutífero. Mas, Janaína está com conjuntivite e vai ficar uns dias sem vir, de modo que fomos tentar.



Era 18:10 e foi essa a hora que foi digitada no painel do aparelho: "relógio, 1810, "relógio". A resposta foram dois apitos (imagino que significa "erro") e o relógio ficar naquela mesma, "00:00" piscando. Apesar de toda experiência com computadores e aparelhos eletrônicos de um modo geral, tentei mais uma vez. E foi dessa vez que aconteceu o evento revelador. Eu errei a digitação e informei "1010" em vez de "1810". Então o equipamento aceitou a hora informada !



Fiquei olhando para ele, processando o ocorrido, até que, um minuto depois, o relógio mudou para 10:11, confirmando que a hora 10:10 havia sido aceita. A única explicação para isso seria se o tal relógio apenas marcasse a hora naquele formato estranho, que precisa de mais duas letras, mas não é o caso, pois o tal relógio do forno de micro-ondas marca as horas no sistema de 24 horas (**).



Foi então que eu deduzi (corretamente) que, embora a parte da programação de apresentação da hora funcione em "modo 24 horas", a parte da programação que faz o acerto da hora só funciona em "modo 12 horas". Faltou “tropicalizar essa parte”. A confirmação disso ocorreu depois da meia-noite, quando eu consegui acertar o relógio corretamente em 00:01.



E então ficou explicado porque Janaína conseguia acertar o relógio e nós não: ela só tentava pela manhã, quando chegava ao trabalho.



** Aliás, essa notação de 12 horas é usada oficialmente apenas em poucos lugares: Estados Unidos, Canadá (menos Quebec), Austrália, Etiópia, entre outros. Na Tailândia se usa um sistema que divide o dia em quatro partes de seis horas. Em grande parte dos países (como aqui no Brasil), a notação de 12 horas é usada mais na comunicação verbal, coloquial.

Fonte:
http://www.laea.com.br/?op=getf&stamp=...224-1255-Tropic