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Mário Monteiro

Por que o Egito falhou na tentativa de derrubar a Internet

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Artigo: Por que o Egito falhou na tentativa de derrubar a Internet

Por Mike Elgan, da Computerworld/EUA

Publicada em 08 de fevereiro de 2011 às 16h15

 

Quais foram os ensinamentos que a crise no Egito nos deixa? Será mesmo possível bloquear a comunicação entre seres humanos?

 

Ontem à noite, já passava das dez quando recebo um telefonema em meu iPhone. Para minha grata surpresa, era meu filho que ligava – do outro lado do mundo – para ter a mais trivial das conversas comigo. Era algo sobre o iTunes; ele perguntava como adicionar músicas a partir de outro PC.

 

A chamada fora efetuada usando o Skype e a qualidade da ligação era próxima a da perfeição.

 

“É paradoxal”, pensei alto. Conversar com alguém a milhares de quilômetros está tão fácil quanto se comunicar com quem está no quarto ao lado. O preço, pelo menos, é o mesmo.

 

Ele usou a Internet para me ligar, eu usei a Internet para receber a chamada.

 

Apesar de corriqueira, toda a sessão me pôs a pensar sobre os limites da Internet. Estariam as redes de telefona celular “dentro” da Internet? E as linhas de telefonia fixa, essas também? Se esse for o caso, pergunto: existe algo que não esteja na Internet?

 

Teria a Internet assimilado a raça humana? Se for considerar os eventos ocorridos no Egito na semana passada, temo que a resposta seja sim.

 

Resistir é inútil

A internet foi concebida como via de comunicação entre redes sem ter sido implementado um botão de liga/desliga. Sua arquitetura decentralizada e flexível é à prova de bombas nucleares. A matéria-prima de que a Internet consiste é um conjunto de protocolos que nós, humanos, conhecemos por TCP/IP.

 

Na verdade, ela não passa de um conjunto de regras e o funcionamento da rede consiste na adoção dessas regras.

 

As regras determinam a flexibilidade e tal flexibilidade é fundamental para a robustez de todo o sistema.

 

O que aconteceria se, de uma hora para a outra, desligássemos os servidores que supervisionam o cumprimento dessas instruções da Internet? A situação do Egito deixa claro que podemos desligar a rede, mas não é possível parar o tráfego de informações sobre os acontecimentos.

 

Por que não foi possível cortar a Internet no Egito?

Hosni Mubarak, presidente do país árabe do Norte do continente africano fez o que nenhum líder jamais fez em toda a história da internet: ele derrubou a rede do país por cinco dias consecutivos.

 

O levante egípcio começou em 25 de janeiro e fora combinado usando meios de comunicação virtual, como o Twitter e o Facebook. Dois dias depois, o governo daquele país ordenava que a Internet fosse deligada pelos provedores; menos de 24 horas mais tarde, era a vez de os celulares ficarem indisponíveis.

 

Na perspectiva do governo, tais medidas seriam suficientes para dar um basta nas comunicações contrárias ao governo.

 

A tática era elementar e surtiria pouco ou quase nenhum efeito. Ela se mostrou tão eficaz quanto atrasar um relógio na tentativa de evitar que determinada hora do dia chegasse.

 

Quebrando as regras

Então, um estudante de nome John Scott-Railton, fluente no idioma árabe e com amigos no país decidiu criar uma conta no Twitter para apoiar o manifesto contra os mais de 30 anos de governo do mesmo presidente. O perfil, batizado de jan25voices (hoje com mais de 7 mil seguidores) foi usado para transmitir recados da população do Egito para o resto do mundo.

 

Logo no começo, John ligava para os celulares de seus conhecidos; assim que as linhas de telefonia móvel foram cortadas, ele passou a ligar para números fixos. Assim, mesmo durante o bloqueio, John foi capaz de tuitar as mensagens de seus amigos durante esses dias bastante difíceis.

 

O gigante ajudou

Quem também aderiu às manifestações foi o Google. Este usou a estrutura de uma empresa de nome SayNow para possibilitar que as pessoas postassem recados em suas contas do Twitter usando linhas fixas. Bastava discar para um número publicado para ter acesso às contas e enviar os tuites.

 

As linhas de telefonia fixa foram imprescindíveis para as mídias conseguirem acesso às informações sobre os manifestos na capital egípcia Cairo. Até mesmo os esquecidos aparelhos de fax saíram dos porões e voltara à vida nesse breve período.

 

Nesses dias de turbulência e incerteza, uma empresa francesa de nome French Data Network possibilitou aos egípcios que se conectassem à Internet usando o arcaico método da conexão discada.

 

É impossível parar a Internet

Eventos como o do Egito provaram que a raça humana desenvolveu protocolos de comunicação próprios – muito parecidos com os em andamento na Internet.

 

Os protocolos da rede contornam situações complicadas e, sem a internet, a comunicação entre as pessoas migra para plataforma de comunicação diferentes, como é ocaso das linhas de telefonia fixas. Bastou o acesso à web ser interrompido, para as pessoas desenvolverem outras maneiras de catapultar suas mensagens para a rede mundial de computadores.

 

Agora considere que todas essa alternativas surgiram em menos de cinco dias – cada hora a mais de bloqueio dava origem a outras tentativas de reestabelecer a comunicação, nem que fosse por meios caseiros. Isso deixava claro que a rede, apesar de derrubada, estaria longe ser inacessível.

 

Os ensinamentos

É possível que as técnicas aprendidas no Egito sirvam para entidades e defensores de direitos civis – incluindo aí o da livre comunicação – deem continuidade ao seu trabalho em outras localidades e realizem tarefas de prevenção contra eventuais cortes semelhantes.

 

Já o governo do Egito aprendeu da maneira mais difícil quais são as consequências de cortar o aceso à Internet. Pressões de outros países para o reestabelecimento da Internet no milenar país começaram chegar às instâncias mais elevadas do país e as medidas de Mubarak também surtiram efeito na economia, quando várias empresas deixaram de fazer negócio usando a web.

 

Além do mais, o corte da Internet no Egito foi o argumento mais robusto usado por oposicionistas e serviu de motivação para continuar os protestos.

 

Ou seja, o caso do Egito serviu para mostrar ao mundo que a internet, apesar de tecnológica, tem por trás atores humanos – capazes de garantir o funcionamento da comunicação e mais fortes que qualquer botão de liga/desliga da Internet.

 

Fonte: IDG NOW

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