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Bruno Augusto

O Brasil explicado em galinhas

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O Brasil explicado em galinhas

 

Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o levaram para a delegacia.

D – Delegado

L – Ladrão

D – Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!

L – Não era para mim não. Era para vender.

D – Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!

L – Mas eu vendia mais caro.

D – Mais caro?

L – Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.

D – Mas eram as mesmas galinhas, safado.

L – Os ovos das minhas eu pintava.

D – Que grande pilantra… (mas já havia um certo respeito no tom do delegado…)

D – Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega…

L – Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio..

D – E o que você faz com o lucro do seu negócio?

L – Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.

O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:

D – Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?

L – Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.

D – E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?

L – Às vezes. Sabe como é.

D – Não sei não, excelência. Me explique.

L – É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso, finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova.

D – O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.

L – Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!

D – Sim. Mas primário, e com esses antecedentes…

 

 

Luis Fernando Veríssimo

 

:seta: Minilua

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